Sobre
Coleção Calmon-Stock, 2000 / 2024
A Coleção Calmon-Stock, baseada na cidade do Rio de Janeiro, é uma coleção de arte contemporânea brasileira que reúne mais de 150 artistas e cerca de 400 obras abrangendo pinturas, esculturas, fotografias, objetos, vídeo-arte e instalações. Iniciada no ano 2000 pelos colecionadores Roberto Calmon e André Stock, a coleção percorre as três primeiras décadas do século XXI mantendo como fio condutor a atenção incondicional a jovens artistas contemporâneos, às novas galerias e aos coletivos políticos. A Coleção, embora de caráter privado, está aberta às instituições, tendo colaborado com empréstimos para exposições no Centro Cultural Banco do Brasil, Caixa Cultural Rio de Janeiro, Museu da Língua Portuguesa, MAM Rio, Centro Cultural Maria Antônia, Fundação Ecarta, ArtRio, entre outros.
No ano de 2017 foi lançado com a curadoria dos artistas cariocas Omar Salomão e Fernando de La Rocque o livro “Corpos, Letras e alguns Animais”, que apresentou a história e um recorte das escolhas dos colecionadores. O objetivo fundamental foi visibilizar os artistas da coleção em um momento do país em que variados alicerces democráticos, como o Ministério da Cultura –extinto nesse período – e a liberdade da produção artística sofriam forte patrulhamento. Uma edição de 500 exemplares, com a colaboração de intelectuais brasileiros e estrangeiros como Marcelo Backes, Nina Saroldi, Evangelina Seiler, Alexandre Ribenboim, Daniele Dal Col, Olav Velthuis, Markus Gabriel, Christoph Türcke e Diederich Diederichsen foi distribuída a artistas, museus e galerias do Brasil, mas também na Alemanha, Inglaterra, Espanha, Holanda, Canadá, Chile e Argentina, com extraordinária recepção. Sua versão online foi disponibilizada conjuntamente.
No livro, a curadora Evangelina Seiler escreveu: “a Coleção Calmon-Stock é mais que uma coleção, pode-se dizer que é uma curadoria residencial a partir da associação de objetos familiares e obras escolhidas. Curiosa, instigante e particular, a Coleção Calmon-Stock mostra dois colecionadores que escolhem suas obras independentemente de interesses externos. A coerência do conjunto é estabelecida pelos colecionadores e apenas por eles”. Isso é verdade, mas, acrescentando à questão da coerência um ponto de vista teórico, é principalmente a estética kantiana aquela que nos aparece como farol em nossas discussões e escolhas no ato de sempre repensar a questão da autonomia do juízo estético para além das esferas estritas da arte e da suposta autonomia do belo. Entendemos a estética kantiana e suas interpretações contemporâneas como chave teórica para pensar a coleção pois nela se juntam as questões que nos interessam: a arte, o belo, a obra, a política, a ética, os possíveis sentidos do mundo e, com mais precisão, a ideia política da arte como criadora de novos sentidos comuns para a comunidade.
Em um país com longa história colonial como o Brasil, se torna fundamental entrelaçar às questões estéticas as políticas. Nosso principal critério de seleção e aquisição de obras sempre foi direcionar especial atenção aos artistas muito jovens desde uma perspectiva política de luta contra a hegemonia da produção cultural já institucionalizada. Essa hegemonia impede que parte da criação e produção de arte participe das disputas de narrativa e da partilha do sensível. Tal critério, acreditamos, viabiliza o florescimento de uma verdadeira multiplicidade de visões de mundo, o que é bom para a democracia. Sob esse aspecto, o tesouro das nossas influências estéticas africanas, indígenas e de todas as nossas multiculturais ancestralidades são como um caminho para um país verde, amarelo, azul, mas também castanho, preto, vermelho, turquesa, lilás, ouro, oliva, rosa-pink.
Se há, então, para uma coleção privada alguma missão ou visão, essa seria o olhar para o percurso dos artistas, das artes e das obras com suas diferentes maneiras de viver, ver e expressar o mundo. Sob esse aspecto – cientes que estamos dos altíssimos critérios da arte, da crítica de arte e de sua história – percebemos uma horizontalidade em nosso modo de enxergá-la. Conviver com tantas obras, consagradas ou não, e com tantas histórias diversas, é não somente um privilégio, mas também um compromisso com a diversidade e com o fomento da igualdade. Como colecionadores, que transitam também em outras áreas do conhecimento, essa nos parece ser uma vereda natural. Neste novo site – que abrange a quase totalidade da Coleção – dividimos com prazer e com grande alegria um caminho comum.